No urbanismo, os subúrbios podem ser um tópico controverso. Isso em parte porque o termo possui definições nebulosas e em constante mudança. Em sua forma mais simples, os subúrbios são comunidades residenciais a uma distância que se afasta um pouco do coração das áreas metropolitanas. O contexto americano vê os subúrbios com alguma hostilidade, com práticas racistas como o "redlining", um legado sombrio para determinados locais do país. Num sentido mais superficial, os subúrbios americanos têm sido frequentemente criticados por sua uniformidade visual — retratados como moradias sem alma, ausentes de um senso de comunidade.
Quando analisamos e exploramos o fenômeno do subúrbio em um contexto global, os significados conflitantes começam a tomar forma. A condição urbana de Mumbai, por exemplo, configurou dois tipos de subúrbios. Mahul, na parte oriental da metrópole, é uma área onde a poluição tem causado problemas de saúde para sua população, enquanto subúrbios como Bandra são o lar de uma clientela mais sofisticada — casa de uma série de grandes bancos. Casablanca, no Marrocos, abriga uma dinâmica semelhante nos subúrbios, onde regiões como Ain Diab apresentam restaurantes da moda e locais como Sidi Moumen têm sido historicamente mais desprovidos.
A natureza urbana dividida das cidades na Índia ou Marrocos significa que uma preocupação chave, a habitação social, foi abordada tanto através da construção de moradias no coração das metrópoles quanto nos subúrbios. Dois projetos de moradias sociais nos subúrbios das grandes cidades desses países trazem à tona questões importantes — será que as moradias suburbanas podem atender a grupos de baixa renda e, se for o caso, há uma maneira de não isolar a própria comunidade que abrigam?
Os subúrbios de Casablanca são o lar de um desses projetos — a Comunidade Habitacional Dar Lamane. Projetado em 1983 por Charai + Lazrak Architects, o espaço foi construído para fornecer moradia para residentes de baixa renda de origem nômade e rural. O terreno do projeto foi recuperado, tendo sido anteriormente uma pedreira em um subúrbio industrial de Casablanca.
A organização espacial da comunidade é muito simples. O espaço público urbano e o conjunto de moradias são priorizados em relação a soluções de projeto para as unidades individuais. Um mercado, uma mesquita e instalações comunitárias compõem o espaço central, facilmente acessível para toda a comunidade. Seis conjuntos habitacionais permeiam este espaço em três faces, consistindo em faixas retangulares concêntricas de blocos de apartamentos que circundam um pátio comum. As faixas de pedestres dividem os blocos de apartamentos, enquanto os conjuntos habitacionais são separados por ruas de comércio — repletas de lojas e restaurantes.
Embora o assentamento tenha sido projetado com o veículo em primeiro plano, o projeto evitou o clássico padrão suburbano de ruas asfaltadas dividindo habitações. Em vez disso, há uma separação entre o carro e o pedestre sem priorizar o primeiro. As áreas de estacionamento em ruas sem saída são acessíveis a partir das estradas periféricas, enquanto as ruas sinuosas que percorrem a extensão do local proporcionam uma circulação de pedestres ininterrupta.
O projeto habitacional Dar Lamane, com total prioridade para a individualidade regional, faz com que a comunidade seja próspera em um ambiente suburbano, com uma linguagem arquitetônica propícia para socializar com um nível apropriado de privacidade.
A necessidade de fornecer moradia para moradores de baixa renda também era uma preocupação em Indore, uma cidade no estado central da Índia, Madhya Pradesh. Neste caso, o arquiteto B.V. Doshi foi encarregado de conceber uma solução para abrigar pessoas que vivem em assentamentos informais no município industrial suburbano de Aranya. Uma amostra de 80 casas foi construída em 1989, mas a visão geral de Doshi era clara. Em contraste com a habitação formal na Comunidade Habitacional Dar Lamane, o projeto de Aranya abraçou o crescimento informal, onde o desenvolvimento incremental ocorreria dentro de uma estrutura legal, econômica e organizacional. As casas da amostra foram construídas com tijolos estruturais sobre uma base de concreto com paredes rebocadas e pintadas. Portas e janelas poderiam então ser fabricadas no local, dando aos residentes ainda mais agilidade no projeto de suas próprias casas.
Como Dar Lamane, Aranya foi projetada como um assentamento habitacional de baixa altura e alta densidade, com espaços íntimos e públicos muito próximos um do outro. Espaços comunitários maiores são arborizados, enquanto áreas mais privativas são acessíveis através de vários nichos e cantos.O tráfego de veículos e pedestres era claramente segregado, com carros limitados a estradas retilíneas e formais de 15 metros de largura. Os serviços foram fundamentais para o projeto, colocados na parte posterior dos lotes de casas, com uma gama de grupos de renda que se acomodam em toda a área do local.
Localizada a 6 km do centro da cidade de Indore, Aranya fica a leste da rodovia Delhi-Mumbai, com áreas industriais em rápido crescimento ao norte, sul e oeste. O projeto oferecia aos seus residentes a visão de que lhes seriam fornecidas ligações convenientes com a cidade e oportunidades de emprego no centro urbano, enquanto ainda poderiam voltar para casa para uma comunidade próspera.
Dar Lamane e o projeto habitacional Aranya abordaram a importante questão de abrigar moradores em uma área suburbana — separada do principal aglomerado de urbanização de uma cidade. As dúvidas, claro, permanecem. Os moradores de Dar Lamane, embora recebam oportunidades de emprego nos mercados locais, por sua vez, não têm acesso fácil a empregos no centro urbano. Pode-se argumentar também que seus residentes podem ser isolados do potencial de intercâmbio cultural presente no centro cosmopolita de uma cidade como Casablanca. O assentamento Aranya, por outro lado, foi engolido pela expansão urbana de Indore, e embora a visão original ainda seja aparente em seu tecido urbano, é claro o afastamento da visão original de Doshi.
À medida que arquitetos, urbanistas e autoridades governamentais locais procuram conceber soluções para abrigar populações de baixa renda, talvez um olhar para os subúrbios da cidade possa lançar alguma luz sobre planejamentos a serem copiados e modelos de habitação que deveriam ser seguidos.